Vazio poético.

Tinha dezoito. Dessa idade não se exige responsabilidade, inteligência, paciência nem fé. Dessa idade só se exige maturidade, pelo menos um pouco. Mas isso ela perdeu aos quinze. Quando morreu de amor e passou a não se importar. Hahaha. É, com seus dezoito ela passou a colocar a culpa de tudo que dava errado, no amor. Coitado, o amor nunca fez nada. Na maioria das vezes, nem aparecia. Mas era o culpado de tudo. E disso ela não tinha dúvidas. Seu ego lhe doía menos sendo assim. Fingia viver de amor e punha a culpa de todas as suas mortes só nele. Morria sim. Mas morrer de amor soa mais poético.
Se não pode vencê-lo, junte-se a ele. Passou a usar o amor para matar e não só para morrer. E foi aí que sua maturidade fugiu, dando lugar a seu egoísmo, que também era poético. Porque era egoísmo de amor. É. Se o amor põe poesia até na morte, o resto é fichinha. Pensava assim.
Amou vários. Mais do que a si mesma. Mas nunca correspondida. Lógico, preferia o impossível. Sofrer de amor é mais bonito que amar. E por conta disso, quando algum desavisado lhe amava, ela o fazia sofrer. Não tanto por querer, mas por não poder amar. Sabe, destruiria a beleza do não-sentir.
Um dia, ela quis fazer diferente. Primeiro, escolheu não amar. E com isso, aquele que mais lhe amava sofreu. Pois alguém que não ama não existe. Ele então amava alguém que não existia. Mas não deu certo. Ela continuou sofrendo, e não era de amor. Era de nada. E não há poesia no vazio. Decidiu amar. E para isso, escolheu aquele que mais lhe amava. Mas ele de tanto amar alguém que não existia, passou a amar mais a si próprio, que pelo menos lhe correspondia. E ela perdeu quem mais a amava e sofreu de amor. Lembrou como era. E gostou. Sofrer de amor é melhor que amar. E voltou a morrer e matar de amor. Que assim era mais poético.
E foi assim, perdeu a maturidade por não deixar amadurecer o amor. Seu egoísmo lhe mantia. E isso nem é tão ruim. Era até bonito. Porque era egoísmo de amor. E era só disso que vivia.

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