Recado pra si

Intensa senhora

Enfia seu cuidado no cu

pra sentir de dentro pra fora.

Vem esvai

O amor chega e esvai

Chegou.
Na intensidade de quem andava em sol escaldante e lhe oferecem água de pote.
Bebe de vez, até derrama pelos cantos da boca, molhando os peitos.

Água no seco.

Mente arenosa. Coração pulsa rangendo, engrenagem desgastada mas vai.

Terra dura. Engole a água, chupa inteira.
Em dois segundos, quando vê, já foi. Tem nem rastro que molhou.

Tanta entrega
que ja deu.

Água na água
parada.

Lambendo o fundo do poço.
Dedos nos fluidos.
Corpos secos e molhados.

A sede se foi
Se esvai.

Água
Mata
A sede
E te vive.

E quem vive sem sede pra matar?

A fila

Taquicardia e arrepio.

Txá carreira que meu coração dá quando sua voz entra em mim, arredia.

Txá agonia.

É frequência parecida
Seu ritmo sintoniza
aqui nos batimentos do coração em gasturinha.

Eita tropeço da porra que ele dá
quando seu tom sobe e desce,
 s o b e. e . d e s c e
afinado

Fico até desengonçado.
Quando sua respiração, entre notas, perfeita
bagunça a minha.

É mesmo de ficar t o d o arrepiado
Conseguir sentir tanta beleza
Mesmo assim de olho fechado

Ter você quase que me beijando
os ouvidos
entrando
sacudindo o juízo
apertando o peito
b o r b o l e t a n d o o estômago

Te ponho pra fora em sorriso e reggae

Perco a rima.

É que

Cê me balança, alê.

Sem.tido


- E o que tenho a perder, se já nos perdemos?

Orgulho-me do meu currículo de quatro páginas em que na própria descrição me apresento com verdade e sem modéstia como super experiente ('excelente' encaixaria também). Em matéria de lidar com gente, eu entendo e cuido e resolvo. Exceto quando essa gente atravessa a barreira de proteção, exceto quando a gente me invade.

Não tenho nada a perder, já me perdi.

Eu sou ok. Eu sei que sou ok. Tenho virtudes pra caralho. E me conheço profundamente pra saber em quanto de merda tive que nadar pra poder encontrar fôlego.

Policio-me todo dia pra me manter inteira. E não é pelo trabalho difícil, não é porque massageio por três ciclos seguidos, ou mais, uma criança em parada, mesmo com o suor da minha testa caindo na dela. Ninguém faz um coração bater como eu. Na minha mão não permito que morra.

Talvez essa seja uma questão, faço de tudo, cansada, quase sem forças, faço de tudo pro outro coração bater. Só que, talvez, isso de que tanto me orgulho seja na verdade dificuldade em deixar partir.


Te vi hoje. Doeu.


É irritante saber a razão das coisas "dói porque acabou antes que eu pudesse tirá-la do pedestal, ela segue sendo um monte de projeções, expectativas e ideias, eu mal a conheço pra saber o que é real".

É irritante e triste entender a razão da dor e não dar conta de anulá-la.

É realmente irritante saber tinhamos um beijo ok, um sexo meieiro, que tinha que medir palavras e carinhos, que precisávamos manter o pé atrás, e que ainda assim, dói TANTO também saber que depois de um quarto ou quinto encontro, não haverá o quinto ou sexto.


Tudo com você era comedido, exceto o alcool. Falo por mim. Não entendo. Sempre meio assustada, meio cheia de dedos. Não me sentia à vontade com você, no papo ou na cama. Não éramos confidentes ou parceiras. Éramos encontros casuais no fim de semana quando dava tempo, quando encaixava de me dar migalhas no intervalo da sua agenda. Como se minha vida fosse mais leve que a sua e eu tivesse que aceitar. Mas eu aceitava e não via a hora da migalha chegar.


Puta que pariu. Como você mexe comigo.


Me sacode inteira por dentro, bagunça meu juízo. Não faz o menor sentido te querer tanto comigo. E não é te diminuindo. Você é realmente maravilhosa e eu te admiro tanto que perco as palavras, acho que me encantaria por você em todas as vidas se houvesse. Mas você comigo, eu e você, não funciona, não existe e portanto nao faz sentido. Como pode uma hipótese machucar tanto, meu Deus?


Não conseguiria, nem quis ou quero, imaginar um futuro com você. Mas, menina... como eu queria o presente. Eu no seu cangote, você na curva do meu pescoço quando me abraça. Como eu queria sua mão na minha naqueles raros segundos que a gente se permite. Como queria não parecer intimidadora, se quando te encaro é só pensando em "velho, eu quero muito você pra mim".


Meu Deus como dói. E não é só o conflito. Ele também, mas não só. Aparentemente eu não sou só razão.  Às vezes eu esqueço. Me blindo de várias maneiras, lido com a dor alheia todos os dias. Com a minha também. Muito bem. Mas dessa vez está difícil: não faz sentido. Talvez seja isso.

Não faz sentido.

Que te quero tanto depois de uns cinco encontros covardes, pisando em ovos, pela metade.

Talvez por isso?

Te queria inteira. Nos queria inteiras.

E dói saber que acabou antes de chegarmos perto disso.

Poderia listar suas mil qualidades, elas podem até justificar o querer, não a dor. Parece que dessa vez a razão não pode explicar. Não é a razão que aperta meu estômago, me faz gaguejar e acelera tão fortemente essa porra desse músculo incansável, que quase cansa de tanto bater quando te vê.


Mas o suor já está caindo, estou perdendo as forças.

Preciso te deixar partir.

Com dor, e um pouco de amor, que eu não poderia explicar.


Fica bem.

Rascunho

Assumo o risco:
Te risco.
Faço da dor, rabisco.
Pra te ter aqui.

Teus olhos, desenhos. Desdém.
Viajam pra longe.
Te peço.
Vem.

Passa a limpo.

Vamo além.

Digo fica.
Arrisca.
Vai que.

Rascunho de vontades.
~tesselates~
De te ter aqui.

Não, leão!

Os nãos
E a graça de Leão.

Vem me ver.
Vou.
Posso não.

É que você me encabula.
Posso?
Até que
Não.

Para. Vem!
Vou.
Mas agora não.
Amanhã talvez / outra vida então?
Claro. Pois. Não.

Empanadas ¿Que tal?
Fotografias
Olha. Nada mal!

São João
e artifícios:
Fogos
e foges
pra me ter
Na mão.

Ah, Leão!

Amor em verso

Faz-me um verso
E me recita

Faz-me riso
E me enfeita

Estrofa
A prosa
Que sou.

Que calor ser poesia.

Sertão-mar

Feito farol que alumia, incandeia
Quando o céu preto trovoa, relampeia

Farol que de noite guia
O marinheiro perdido de agonia.

Farol é pro mar que nem pé de arranhento cortado no facão
Fazendo caminho pro próximo que vier

E a caatinga espinhenta desse coração
Agita o mar daquela mulher

Ah, esse sertão vai virar mar, quando você estiver.

Propósito


A dor que acolho em você
Esqueço que existe em mim
Pra não nos contaminar.
-
Somos todos doentes em algum nível
Somos todos sãos.
-
Sobra ideal, falta força.
Tudo que posso, parece ainda tão pouco.
Presa entre os pontos das doze horas diárias de trabalho.
Pra cumprir meu papel no mundo.
-
E ainda assim. Quem me acolhe quando vivo pra acolher sua dor?

Low key


Diafragma aberto
(Pra captar sua luz)
Reduzo a velocidade, quase que freio.
(Pra captar sua luz)
Tento não te granular
Na intenção de te definir
É que seu sorriso e seus olhos são abrigo de tantos mistérios
(E luz)
.

Dizem que fotografia é arte. Mas a arte, meu bem, aqui é você.


-


Escuridão e luz
Luz te dão
Fugaz

E nessa busca incansável de se encontrar
Foge do escuro
Corre de si
Tropeça
Destrambelhada mesmo atenta
Quase esquece
Que ainda assim
Não depende dela

Só de.

A pele e o ego

No ego tudo é superficial, ainda que pareça gigante.

Como a pele, que nos cobre inteiros mas não passa de milímetros de espessura.
Que como armadura, nos protege mas tão fácil se arranha e sangra.
Tão fácil a pele e o ego se ferem.

A pele é o órgão mais pesado do corpo humano.
E assim deve ser,
para proteger tudo que é leve.

Watch your ego
But please don't make it feels more important than
what is
inside

A pele é enorme e protege
Tudo que é essencial
E, por isso,
é essencial também.

Não permita que a pele esfrie seu coração. Ela está lá para aquecer.

Watch your ego

Por favor não esqueça nem anule
O essencial
também
está
dentro.

O ego só protege.

Não define.

Time out

Por que fico?
Por que corro?
Parece que qualquer tropeço é motivo de sair em disparada para minha solitude.
Meu Deus, o que eu preciso enxergar?!

Eu estou presa?

Ou eu só quero ficar?