Lua em capricórnio.

- Olha a lua! – disse meio bêbado a si mesmo. Festa louca, música louca. Nada de luz, ou dignidade. Insanidade. Era só o que havia. Era só de que gostava. Mentira. Gostava da lua. E nessa noite, ela estava excepcionalmente...
- Linda. – a moça ao seu lado completou-lhe os pensamentos. Como podia não ter reparado nela antes? Calou-se por um instante. Talvez pelo susto. Talvez por simples desconcentração.
- Já a viu lá de cima? – a moça lhe perguntou com a voz cheia de paz e olhando-o nos olhos.
- Cara, não sou astronauta. – É. Tinha um senso de humor peculiar. A ignorância era tão espontânea que chegava a ser... engraçado.
- Hahaha. Um a zero, “cara”. – ele meio que se desconcerta, meio que não se importa. Olha pra baixo, dá uma tragada forte em seu cigarro.
- Vem. – Pegando-lhe pela mão, a moça o leva sem pressa para um canto da festa, ele vai confuso.
- Ah. – diz, se sentindo um idiota. – lá de cima, né? – diz olhando para a escada à sua frente.
Subiram alguns vários degraus e quando chegaram ao terraço, não havia barulho, nem pessoas, nem luz, nem nada. Só ele. A moça. E a lua. Que de tão cheia, enchia o céu de luz, refletindo nos olhos da moça, atravessando os dele. Pensou consigo mesmo "ah, esses lindos olhos seus... quero-os fazendo par com o par do olhos meus".
- Linda.
- A lua? Sim. Excepcionalmente...
- Linda. Você.
[silêncio]
[silêncios]
Ele se aproxima e tenta beijá-la. Homens.
- Não vou beijar você.
Ele fica confuso, por que ela o levou lá em cima então?! Mulheres.
- Você não quer?
- Quero. Mas algo me diz que não.
- A lua?
- Talvez.
- Sorte nossa já estar quase amanhecendo.
- Haha. Dois a zero. Mas a lua não vai embora, ela só se esconde. Você sabe.
[silêncios]
Tenta beijá-la novamente.
- Não.
Não sabia se era por culpa do não, do mistério ou da lua. Mas a moça da voz tranqüila pareceu ter-lhe conquistado.
- Vamos só ficar aqui. Não vamos perder essa lua. Vamos? – a paz daquela voz...
- É verdade. Linda. Excepcionalmente...
- Linda.
Enquanto ela olhava a lua, ele olhava seus olhos, quase claros de tão brilhantes. Seria a lua? Ou sua paz?
- O que você faz? – ele perguntou curioso.
- Geografia. Você? - ela entra no jogo.
- Comunicação. Idade?
- 20. Você?
- 22. Signo?
- Adivinha.
[silêncios]
- Aquário? Câncer? Libra?
- Não. Não. Não. Por quê chutou esses?
- Aquário pela criatividade e estilo. Câncer porque me parece leal, confiável... E libra só pra sentir o alívio do não. Traumas.
[silêncios]
- Capricórnio? Me diz que não.
- Sim. Capricórnio.
- Ah! Capricórnio! Não poderia ser melhor.
- Defina capricórnio.
- Pés no chão. Cabeça... no ar?
[sorrisos]
[silêncios]
- Você?
- Eu o quê?
- Signo?
- Virgem.
[silêncios]
- Ciúmes e perfeccionismo, ein?
- Não acredito em signos. Quando o assunto sou eu.
Se olham, como crianças se descobrindo, e silenciam, silenciam, silenciam.
[silêncios]
- Tenho que ir.
- Você quer ir?
- Três a zero.
Se abraçaram demorado, se olharam nos olhos. E só.
Três a zero para ele.
E foi ela quem ganhou.
A lua.

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